Pesquisar este blog

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O nascimento de Opala


Quando abri os olhos, pouco depois de meu corpo exigir ar, como todas as crias da Terra, a luz os fechou novamente... Por um breve momento vi meus pais ou minhas mães, dois seres, duas entidades, dois elementos, duas essências, dois deuses, duas divindades...
Meu "pai" foi quem pensou nos meus passos e nas minhas capacidades... Ele que encomendou meus presentes, ele que chamou os que me ensinaram a falar, a aprender e a lutar. Ele era rigoroso, quase não fazia afagos, sempre com um olhar forte e um ar de responsabilidade e preocupação. Não parecia que sentiria minha falta.
Minha "mãe" foi a responsável em boa parte da minha postura e forma de ver este mundo... Ela me levou para passear em diferentes lugares que refletiam a natureza da Terra. Me fazia usar os sentidos até que as sensações calassem os pensamentos e me deslumbrasse com algo sem nome. Ela era carinhosa e reconfortante. Não parecia que se tornaria o que se tornou.
Então, meu primeiro presente chegou: uma pedra em formato de ovo. Tinha a minha cor e brilhava como eu brilhava - meus pais se entreolharam. Eles não concordavam entre si: "ela" dizia que eu precisava de mais tempo com eles, que não estava pronta e que era uma má ideia; "ele" dizia que os sentimentos deles não importavam quando tantas vidas estavam em jogo e quando tantas responsabilidades pesavam sobre meu ombro...
E para a Terra fui. E tive que nascer de novo.
Soube que "minha mãe" e seus irmãos enfrentaram seu criador, que alguns diziam ser o criador de tudo e de todos. "Ela" foi derrotada e incorporou ares masculinos, as montanhas e as rochas tornaram-se sua segunda prisão, depois de anos na escuridão profunda do abismo... Sou que "meu pai" enfraqueceu, devorou seus outros filhos, adoeceu e deixou de ser o que era. Se exilou no refugo dos esquecidos, onde só as lembranças podem crepitar alguma chama de fé.

Nenhum comentário:

Contatos