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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O CAOS E A CIPRESTE DEMONÍACA

Ao Mutirão dos Indeléveis

A escada para o Todo,
Se inicia nos confusos
Enredos de uma Ilusão:
Eis que chegam um a um,
Os filhos do sacramento dos cultos,
Anjos da retórica indecifrável!

O pequeno pobre poeta descasca
Seus fios sujos de cabelo ressecado
Parte do couro se acumula sob as unhas,
Parte da sina está dentro de muitas garrafas...
Sua lamúria é perpétua! Seus sonhos se esvaíram
Há muito tempo, logo depois de surgir,
Porém, antes de nascer...

Triste e trôpego, o profeta dos bons tempos!
Sorriso constante! Trilha o caminho dos ridículos!
São incessantes as deidades que lhe flagelam a cabeça,
Um deus o mutilou quando acabara de existir...
Agora, desprovido do prepúcio, vaga a dar razões incertas,
Totalmente válidas em sua caverna,
Em que registra uma história que não será lida...

O clérigo das ruínas, o santo das crucificadas,
O hálito da pureza e da inocência cativa um rebanho raivoso,
Mas seus iguais sentem a podridão que fraqueja no fim...
Sua alma não lhe pertence, sua vida foi abnegada,
Suas deusas não o provém, sua haste não tem ponta...
Mas ele ri - o engodo - e caminha!
Braveja e se castra continuamente...

Enfeitiçados!
O sorriso mórbido que se estende...
A jovem morta na praia dos iludidos...
O virtuoso suicida enforcado...

Os resquícios de uma convicção
Ainda travam batalhas,
Nas noites sem som,
Nos cantos da angústia,
Sob a placenta do Desespero...

O sol,
Os olhos...
A baba endurecida...
Uma lembrança
De um pesadelo tido no passado,
Um vislumbre da impotência
Das coisas loucas do mundo...

A poeira cavalga o vento!
Sem sonhos ou pensamentos...
A poeira são muitos restos de areia!
De nome só um...
Triste? Colérica? Incerta?
Não!
Feliz,
Como a pedra que fita o sol sem olhos!
Como a rocha que sente sem sentir a tempestade...

E as escolhas não cabem a uma única virgem,
Não se crê em paladinos do absurdo,
Agora, o caos veste o rosto de seu Avatar,
E se prepara para deixar este mundo mais uma vez!
Até renascer como um cristo louco,
Um diabo inocente,
Um grão de um mineral,
Intermitente.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

A SENHORA DA VINGANÇA

Algumas lendas de povos antigos e sábios contam que a alma é dividida em muitas partes. Não é feita de apenas uma essência. É como bebidas feitas com diversas substâncias, cada uma para cumprir, supostamente, uma função... Véus e tecidos que cobrem um corpo virginal prestes a ser entregue a seu novo dono. Muitas razões, apenas de um objetivo... Assim pensava ao fitar a taça de cristal, preenchida com um licor único - sangue de filhotes de dragões - e extravagante, Alea Yardan. Essa reflexão foi há muito tempo. Tempo? Foi em circunstâncias e datações imprecisas. Ela estava embriagada pela mágoa da traição e pela dor da perda.
Seu pretendente, entre os sempiternos, era um dos mais desejados. Um jovem deus elfo, com muitos seguidores e planos exuberantes, daqueles que enchiam a imaginação dos eternos mais antigos e chegavam inclusive a chamar a atenção dos "infinitos", os imensuráveis. Alea não era uma deusa com muitas pretensões, aguardava sua vez na linha hereditária de sua família, estava fadada a se manifestar numa jovem rainha de uma terra distante. Nas brevidades, quase inocentes, aqueles casos incomuns, com floreios que não necessariamente se configuram como exageros, os olhos dos dois jovens sempiternos se encontraram... E em um salão, onde mais de uma centena de sempiternos, e menos de uma dezena de infinitos, compartilhavam suas ponderações, a brevidade mais ínfima do tempo se desfez soprada pela surpresa dos primeiros olhares - aqueles que são preenchidos pelo absorto e pela dúvida - que não vacilavam. Os olhos dele são cheios de ganas, pensava Alea; os olhos dela rivalizam com sua tez e lábios, deduzia An'Nag.
A lentidão do tempo, que freava constantemente nas notas doces e lentas das cítaras, não incomodavam aqueles que não viam mais ninguém; nem a bela e doce Solyphynnaya, uma deusa da beleza e da paixão, ou o deformado Mehrgwry, deus da aflição, nem o inconstante infinito, Glazymasthur, guardião das eras escritas dos sempiternos... Nada era capaz de ser tão importante na brevidade daqueles segundos que não chegariam a se tornar um minuto. Nada.
An'Nag se aproximou:
- Em um vastidão infinita de vácuo...
- Se estende a dúvida: seus filhos são o desespero e a esperança?
- O óbvio...
- A certeza da angústia: dor ou amor!
- É. Um dragão azul de duas cabeças.
- Metáfora singela. Bonita.
- Nem nossa língua alcança. Não creio que haja fonemas.
- Por que seriam necessários?
- Não os são. Para descrever este momento lapidado nas paredes de minha memória.
Tanto tempo se passou. Tanto amor e tanta paixão vieram por eras. Tanto desespero, rios de saudade, turbilhões de mágoas. O impossível, durante as Guerras Eternas, aconteceu... An'Nag foi destruído. E antes que pudesse chorar em seu luto, Alea descobriu sua traição; ele cobiçava uma deusa do acaso em Nova Atlântida: Opala... A jovem deusa elfa juntou todas as informações que poderia conseguir com sua mágica - é deusa do poder e dos nobres - e ordenou que dois campeões planares lhe obedecessem: Axelphy, o arqueiro, e Sellyne, a feiticeira... Eles foram mandados para Nova Atlântida para conseguir informações sobre Opala e lhe trouxessem uma parte de sua essência. Levou séculos, quase um milênio - uma piscar de olhos para um sempiterno -, mas conseguiram. Alea Yardan forjou seu cordão, que lhe permitia atravessar os planos em segurança, sem o risco do "mal-planar", e partiu para os planos, ou versos, mais próximos disposta a unificar forças o suficiente para submeter - ou destruir - todos os deuses humanos. Em Arkya, ela descobriu como matar deuses-dragões, em Nova Atlântida, ela descobriu a fraqueza dos pilares da realidade, e em Caen, está prestes a chamar a atenção de um dos deuses que entende dos fios mekânicos do universo... Nem que para isso ela tenha que destruir parte desse mundo.

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