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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A derrota: primeiros passos


A derrota é um estado de sensações finitas, porém, com complexidades singulares - mas às vezes simplórias... Não somente se estampa no rosto quando a embriaguez é profunda; o corpo se curva, os pulsos formam ganchos vacilantes, os passos torpes juntam-se a um andar trôpego, a língua salta para fora da boca, mas continua presa entre os dentes... Como se um dos maiores predadores dinossauros voltasse a viver, milhões de anos depois de seu próprio apocalipse, mas em um suspiro incompleto, como se em cada passo a morte e a vida disputassem uma partida de xadrez que pendesse para a primeira... Mas não é nesse estado que a derrota se faz...
Ela se manifesta quando ouvimos os trunfos de terceiros, sua disciplina, sua capacidade de superação - não que não sejamos capazes de tal feito - e vontade inabalável de sucesso; então, lembramos de nossa mísera ambição de paz e ócio, o estandarte da preguiça. Esta que voltara dos confins da era glacial, e tomara uma extrema obsessão por nossas costas! Um cavalo do xadrez, caminhando por cima de nossos esforços e chegando sempre muito perto, ficando a nosso lado não nos mata, mas angustia... Leite de aflição, é o que nutro naqueles pouquíssimos que ousam provar...
Então, o mofo e a catarse começam a dançar pelo quarto, o suor se esconde, a incapacidade de acordar aquele ímpeto pueril cheio de aspirações oníricas, quiméricas etc. está tão forte que a sonata que preenche o ar não a comove. Nos cantos, as assombrações e os demônios dormem como lindos neófitos, quase não dá para ouvir suas respirações e pulsações, são quase inaudíveis, como o tear ou os passos de uma aranha esquecida atrás da porta, como o rastejar de uma traça, ou o desespero de uma mosca que teve o infortúnio de perder a capacidade de voar, a vespa se aproxima, a fita...
Um som mais próximo, cheio de cor e cheiros, Maxixando, Ricardo Tacuchian, toma as partículas invisíveis que pairam sobre todos os cantos do cubículo... Larvas de mosquitos eclodem do lado de fora; a vida! Há vida! Um sorriso se assanha na morbidez do espaço semifechado. Os tomos suspiram. A derrota é olvidada, por ora...

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