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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A jovem jardineira dos Sonhos: Gainan


E no meio da noite, envolto em um sono tranquilo, eis que me encontrei em um iluminado dia cinza, nublado... De repente me encontro envolto em uma bruma tênue, por entre árvores de muitos tons alaranjados e vermelhos... Ao me tocar, sinto que visto algo bem grosso, algodão cru, de um lilás inebriante. Faz frio. Por baixo dos cachos ruivos, sinto minha orelha anestesiada e fria...
 A beleza da natureza ao redor me paralisa... Ouço o som da água bem próximo... Um riacho... No chão, um imenso tapete de musgos e folhas coloridas estala sob meus pés e muitas, muitas árvores frondosas cirandeiam a meu redor. Acredito que, devido ao clima, silentes e semi-hibernas, apenas me observam de soslaio.
 Estou diferente, num ambiente sem espelhos, sei que estou diferente. A pele muito branca, mãos pequenas enregeladas. Longos cachos vermelhos, às vezes cobrindo o meu rosto, no pescoço, um cordão, uma pedra, uma runa... Nos pés, calço algo como couro, couro de gamo... No corpo visto uma espécie de manta grossa fazendo às vezes de um vestido caindo até o meio das pernas.
 No ar, orvalho da manhã, almíscar, sândalo, cheiro de mato... Energizante... No céu, uma enorme lua que se despede diante da claridade cinza da manhã que surge... Toco o meu rosto febril diante da experiência de vislumbrar esta cena de forma tão nítida... Tão real!! Bem próximo, na margem do riacho, ainda uma fogueira emana apenas o calor em meio às cinzas... Noto junto a mim um pequeno balaio... Amoras, uvas, pão, queijo e um recipiente com vinho... Sinto que é hora de voltar, preciso ir... O que quer que tenha acontecido aqui, já acabou...
 Com o balaio nas mãos, resolvo então voltar... Voltar?... Para onde? Esta certeza vem apenas em meu coração pulsante... É... Estou voltando... Após alguns passos, páro e olho só mais uma vez para aquele lugar... Preciso gravar isto em minha mente... Ao me virar, constato que a bruma, antes espessa, se dissipou um pouco e assim pude vislumbrar bem no meio de tudo uma grande pedra angular com o mesmo símbolo entalhado na pedra que trago em meu cordão e junto a ela uma espécie de mesa também em pedra... Sob ela muitas flores, leite, mel e frutas... Uma emoção estranha, como se fosse uma bolha invisível cresce dentro de mim e explode em meu rosto na forma de um sorriso...
 Retomo meu caminho com a certeza inegável de que um dia tenha dançado nua, sob a luz do luar, após deitar leite e mel em agradecimento a Grande Mãe... Ouço sob a minha cabeça um ribombar surdo e meus pulmões se enchem com o cheiro da chuva próxima... Ponho-me a caminhar... Estou quase lá... Ah! O meu nome?! O meu nome é Gainan!!
 De repente, acordei... Sereno... Calmo... Respiração tranquila... E a nítida sensação de alma lavada... Lá fora, chove...


Noriel

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