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quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Diabo da selva



O Diabo faz sorrisos ao luar. Desenha mil formas ao vento. De vez quando o nativo diz escutar sussurros na mata fechada, entre o meio-dia, seis horas da tarde, meia-noite... Ele sabe que não deve entrar na mata sem pedir a devida permissão - anunciar licença.

Dizem que é o Diabo.
Ele sabe que é algo que não sabe explicar: na cabeça de qualquer um toda aranha com cara de demônio faz suas teias profanas. Quem não sabe disso?

O senhor observava, bem mais que assustado, a criatura que acabara de derrubar com um golpe de terçado: tinha cor de limo, tinha três cavidades oculares, era um pouco mais alto que um cavalo, bem magro e possuía braços que lembravam o corpo de uma cobra... Ele reagira mais por instinto que por raciocínio rápido: a criatura parecia se alimentar de algo nas árvores, talvez um macaco, e quando percebeu a presença do velho pescador que acabara de voltar de uma tarde de fartura na beira de um furo qualquer, não hesitou em avançar! O velho foi mais rápido e golpeou três vezes a criatura na parte superior, o que talvez fosse a cabeça, tirando-lhe o que lembrava sangue, apesar da cor escura, até que ela fosse ao chão e parasse de emitir um gemido baixo semelhante ao choro de um porco...
         Ele olhou diversas vezes para a criatura, seus olhos se escancaravam: estava escuro, mas a lua permitia uma observação mínima. Deveria ser coisa do mato. Coisa que não se mexe. Ele tentou ignorar e voltou ao seu trajeto – rumo certo da casa, onde a mulher esperava com a panela, e os filhos com a fome. Andou o mesmo caminho, e começou sentir nojo. A garganta estava apertada, e parecia febril, queria vomitar. Rezou um pai-nosso e duas ave-marias, procurou tabaco pra mascar e pelejava para pensar na canoa furada – esquecer o que acontecera! Contar em dia de cachaça...

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