A determinada Ilía olhava com carinho o sono de Anelson. Eram os únicos naquela rua. Eram os únicos naquela casa. Não eram os únicos no quarto: Chefe Uma-Asa-Só estava lá, e também observava: o sonho do mancebo. Aquele condomínio fora um refúgio para os rebeldes durante um tempo. Então as Agulhas Escarlates fizeram expedições pelo subúrbio quase abandonado de Saint Marbel. Além dos vultos que se arrastavam, ainda que resistissem, nas matas, encontraram alguns rebeldes de diversos grupos: Os Anarquistas do Rio, os Vermelhos Vitoriosos, as Lutadoras Indomadas... Nenhum deles foi páreo para a extrema disciplina e das Agulhas Escarlates, por mais que tivessem lutado bravamente! Depois das vitórias, o habilidoso grupo partiu. Alguns dias depois, após um longo exílio em um povoado distante chamado Sobras-do-Céu, Anelson voltou. Estava só.
Ilía lutara ao lado de vários companheiros e companheiras. Sua parceira Sella Aires morrera numa longo batalha no Largo da Pólvora, um dos últimos grandes suspiros dos rebeldes. Ela fora deixada para trás por seus irmãos de armas... E caminhava com rumo incerto pelas ruas desabitadas e insólitas. Até chegar, novamente, no condomínio do antigo amante; Anelson.
Foi numa estação mais chuvosa que o normal, que um garoto recebeu o nome de Uma-Asa-Só. Ele era o mais novo filho de Caminho-Fechado e de Nuvem-Escura-de-Rancor. Estava com medo, porém ansioso: o dia da iniciação. Deveria dançar e cantar até o amanhecer, vestindo a pele da jaguatirica que ele mesmo havia caçado. Assim o fez. Depois partiu para as ilhas próximas. Caçou, sobreviveu e guerreou ao lado de diversos companheiros, contra as forças das outras nações que ameaçavam os bravios Yakareanhõs. Um dia, retornou com vontade de ter uma família, e reivindicou as terras de Areias-Verdejantes, um chefe fraco e doente. O moribundo as cedeu sem oferecer resistência, e ainda entregou sua filha mais nova, Iariã. E assim viveu por longos anos, em certa paz, em certas terras... incerto destino. Seu filho mais novo, ainda sem nome, nascera com um doença rara - revoltara-se com a condição, e culpava o pai. Ninguém sabia que doença era, mas, ninguém duvidava do rancor do pequeno.
Ele foi até o rio mais próximo, e o atravessou. Os pulmões já quase não aguentavam e ele implorou aos deuses que lhe tirassem a vida! Mas quando terminou seu pedido, já estava do outro lado. Sobreviveu duramente a escassez daquela ilha verde. Ninguém fora lhe procurar, mas a vingança, vestida com a pele da praga, enviada com cânticos e danças esquecidas, fora ao encontro do povo de seu pai.
Um a um, os moradores das Terra-das-Areias-Verdejantes, caíam doentes. Uma enfermidade sem nome, nenhum sacerdote ou herborista poderia aplacar. Os filhos e as esposas do chefe caíram. O chefe não adoeceu, todavia, insensatez em dizer que o sofrer não macula, ele não conseguira mais morrer... Seu corpo se desfez, seu solo restringira-se a uma pequena clareira na mata, agora, o quarto de Anelson.
O Chefe gostava do determinado e empolgado bravo. Também tinha simpatia pela jovem Ilía que vez por outra, dizia com pesar de suas convicções, poderia senti-lo por perto. Entretanto, não há muito o que dizer, pois palavras não comportam os anseios profundos, aqueles que nem quem os tem sabe o que tem: Ilía tinha seus próprios planos - ela preparara uma composição ritualística para dar fim ao Chefe, libertando-o de seu grilhão espacial, logo após sufocar com força o antigo amante; nunca iria esquecer a última noite de prazer, mas levara a cabo a força das Lutadoras Indomadas até contra aqueles que não as açoitavam! E por fim: rugiu! E correu pela noite!