Contam uma história de um anjo
Que inspirou o nascimento das asas da História
E dos pés do Tempo
Esse anjo se revoltou contra Deus
E com os outros anjos
A Escuridão os abraçou como uma mãe ciumenta
Ele de sua prisão se libertou!
Chamado por dezenas de vozes com o sabor do desespero...
Sem corpo radiante, sua nova morada foi uma cordilheira
Não parecia mais com um anjo
Suas asas apodreciam
Sua pele murchava como seu Amor...
O anjo chorou e gritou
Soluçava na fria e úmida caverna
Mas vieram lhe consolar, vieram lhe dar Fé...
E quando a pele se desfez
As asas sumiram
Ele passou a ser a alma daquelas montanhas!
Seus seguidores cantavam seu nome
Lhe pediam favores e proteção
Unido à Natureza que ajudou a criar - ele ria de novo!
Com o riso - o cinismo
Com o sarcasmo - a ironia
Com a arrogância - a inveja
Não mais anjo!
Nem mais servo - agora senhor!
Rígido e temido - aguardando o Juízo...
A DAMA DA FRIA BRISA
Serena e orgulhosa
Os seios petulantes
O sorriso mutilador
As vestes perturbadoras
Nenhum coração?
As sombras como braços de vidro escuro
Envolviam como fivelas ao vento
No colo um pueril desejo morria
Tomado pela ânsia da imortal
Só resta a seiva daquela jovem pele
Que agora se estica sobre ela
O sorriso da satisfação atroz
Célere - bela e de odor impecável - mais uma vez
Mira a pálida luz de um poste - a caçada segue
O REMOTO CÂNTICO DE FELICIDADE
Prolifera, prolifera, o pequeno Cupim errante,
Abaixo a orgia dos carunchos - raça inferior!
Nasceu menor entre os ínfimos - órfão como poucos,
Silencioso como todos, não tinha expectativa cotidianas,
Vivera seus últimos dias tão solitário quanto o mundo que habita:
Num podre armário o Cupim e a Terra num estéril espaço...
Pouco antes da vida abandonar aquela casca,
O que poderia ser uma sensação de risada se instalou sobre o diminuto!
Os outros o cercaram, mas como ele não se restabelecia, o abandonaram,
Ria! Catastroficamente e como um ser humano que gargalha:
Rodeado por outros e ainda só num ônibus lotado!
Percebeu entre todas as lascas e farpas - poeira cósmica - que deram sentido a seu nascimento,
Que sua infinitude não poderia servir a nada que pudesse lhe dar retorno,
Nem que fosse o mais esforçado e mais promissor,
Não! Ele não ria da desgraça! Mas pensava que ainda era afortunado:
Pior seria se tivesse nascido caruncho!
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