Pesquisar este blog

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A flauta e a falta

A mãe morreu aos quatro anos dele, Jão era inquieto e estabanado... O pai Menoal sabia que não podia criá-lo só, mas os duzentos quilos da mãe cobraram o preço, os pais não eram casados e não dividiam a mesma cama há anos... O velório foi simples e melancólico, apesar de pouco choro ocorrer...
O pai gostava de música e de teatro... Deu uma flauta a Jão para colocá-lo quieto por um tempo; funcionou. Seu Menoal tinha segredos, os maiores deles feitos para proteger o filho, pelo menos é o que ele achava... Jão não tinha amigos, alguns conhecidos conversavam com ele, mas não cativava ninguém...
Há segredos necessários? Não há necessidade de mentiras? Entre os que guardam a verdade, quem esconde a realidade? Menoal chegou cedo, nas costas lhe pesavam décadas de segredos... O som da flauta ecoava no quintal, Jão estava desde cedo lá... Menoal tirou o revólver de dentro da gaveta, chorava. Jão estava com a mente em outro lugar, feliz entre a satisfação e o gozo, a recém-comprada cabeça de porco estava enfiada no cabo da vassoura, fincado no chão... O som do tiro foi ofuscado pela sinfonia que ecoou pela noite, atravessou os jardins e ressoou entre as paredes da casa e do sanatório...

Nenhum comentário:

Contatos