Os olhos de Vuynda, o dragão Negro, já estavam praticamente imóveis há um dia. Observava cautelosamente os movimentos dos ventos, das nuvens, dos córregos, das aves, dos espíritos... Ele havia visto. Agora, só procurava certezas: ondas de cor clara, uma brancura terrivelmente devastadora, não como neve, algo que queimaria, extinguiria - uma devastação alva - em branco: ao nada. Algo sincero atravessava o velho espírito daquele ser; era medo.
As vozes seguiam piores, agora gritavam e choravam, choravam gritando, em gritos choravam... As visões bem piores, mortos já eram normais, mas agora imagens de santos e crianças, tudo pior! Loucura com forma e som... As marcas profundas, atravessavam Chifre-Negro... E certo dia, pararam. Os espíritos da corruptora haviam cessado o atormentar do impuro; seria pelas chamas rosadas que cresciam dentro da terra?
Seria o hálito salgado, o cheiro de ferrugem que rugia em algum lugar dos mares? Há incerteza plena dentro de cascos confusos... Os velhos sanguessugas, certos de sua eternidade, agora... coitados? Andarilho de fé: última gênese de uma guerra santa? E os carrascos cegos? Os pequenos tolos? Os dois olhos que veem o Caos, e podem dizer tudo! Eles estão lá! Esperam quem? Por quê?
Deslizando lentamente, um pouco mais de força, um pouco mais de concentração, um pouco menos de excitação: menos uma cabeça! O demônio, agora, sabia que deveria saltar, com asas - claro! E o ácido de duas das cabeças restantes da enorme criatura acertou o chão! O cheiro era terrível, mas, claro, nada se compara a visão de uma coisa de quase 4 metros de altura, com garras imensas, presas grandiosas, e sete cabeças - sete não! - cinco. É de matar só de ver, literalmente (muita gente morre com tais visões...), mas não se você ajudou a criar o mundo, lutou contra as hostes de Deus, e passou milhares de anos preso num abismo cheio de demônios - não. Você não morre de medo, e ainda por cima encara coisas que se acham tão velhas e poderosas quanto você! O terceiro salto o colocou longe de qualquer ataque dela, quer dizer, quase... A cauda acertou as costas do demônio e o jogou contra parede, não precisava ser tão forte - pensou rápido, e esperou mais duas cabeças se aproximarem... uma presa roçou seu ombro esquerdo, e a outra roçou sua perna direita, perto do joelho, os golpes foram certeiros - quase: uma cabeça saltou fácil, mas a outra ainda pendeu por algum tempo, antes da criatura urra consecutivamente... todas cabeças iriam rolar ainda naquela noite... Mas Ynvu, o demônio astuto, precisava de mais respostas...
Cada cabeça uma sentença? Mais uma pérola do humor dos mortais: tolice em demasia para macacos que aprenderam a falar e se matar há tão pouco tempo...
- Como isso é possível? Ela enlouqueceu, ou melhor... Vai ver nunca teve uma consciência! Quanta tolice...
- Você vive há eras. Deveria já ter visto algo assim. Ele sempre tentou me explicar, mas na verdade não faz diferença alguma... Quando o que está na sua frente quer lhe destruir e consumir sua alma. Passado, presente, futuro... Da onde vier a dor, temos que ter couro para suportá-la.
- Como ele soube e descobriu tanto? Sem perder nenhum pouco de sua sanidade? E...
- Quem disse que ele não perdeu? Ele está mais do que perdido, ele é a perdição de muitos de nós... Sempre foi pra uns... Charlie sabia da verdade...
- Obrigado, a propósito, pela arma... como chama mesmo?
- Espada-cruz. Foi ele quem as chamou assim. O Padre as benzeu, quando ainda eram crucifixos de prata, vieram do Vaticano. Devoto as forjou. Pensei que fossem foder tua mão, Ynvu...
- Eu também, Ifrid... Tem algo de errado? Algumas mentiras se transfiguram em excesso, e às vezes a realidade vai junto... Ela deve saber, vocês chamam de Ele - Deusa ou Deus... E onde ele tá, o Arcano?
- Em algum reflexo, alguma cabeça, algum plano, algum espelho... Na puta que pariu...
A multidão observava catatônica... a jovem estava completamente mutilada: faltava-lhe uma parte do braço esquerdo, a mão direita, pedaços grandes do tórax e a perna direita. O Uratha havia atacado sem dar chance à criatura! Ele esperara cada minuto, imaginando o tempo que levaria para cada ataque: a mordida, os golpes com as garras, e depois fugiria. Sem deixar marcas, vestígios e pegadas... Tudo bem pensado, quase tão bem executado, mas o jovem filho de Pai Lobo, havia deixado um pequeno "pelo" para trás, dada uma pequena resistência da desgraçada filha da Aranha: o Puro farejou. E seguiu o rumo do cheiro.
É com um pesar um tanto desconfigurado que me volto para o meu querido leitor assíduo. Contudo, aos novos que por azar, quem sabe sorte, esbarraram a vista nestas palavras, no veículo de informação diante de vós.
Devo dizer, prezados, necessito anunciar: NÃO HÁ MAIS NINGUÉM SÓ NESTE MUNDO. Sim. Uma grande descoberta. Imagino o estupo pleno e claro em cada face. Não poderia mais aguentar, se fosse possível, queria que pudessem ver meu rosto diante da descoberta: olhos saltando, cor perdida, tremor e inércia, alternados, suor... Uma verdadeira catarse, um quase orgasmo. Não há mais ninguém só neste mundo.
Relato minha descoberta: dia 23 de junho de 1986, era uma manhã escura, cinzenta, eu estava em uma pousada, em Anápolis, escrevendo sozinho e aguardando meus parceiros da redação, tínhamos um trabalho a cumprir; coletar informações sobre o prefeito e sua digna incompetência. Trabalho simples e descomplicado. E assim foi, tudo terminado em um dia.
Não sou casado, tenho alguns casos, nenhum filho, e meus pais já são falecidos. Não tenho muitos amigos, mas não sou uma pessoa só. Um pouco.
Na volta, tudo mudou. Veio a confirmação: A SOLIDÃO DESAPARECEU DESSE PLANETA. Havia parado para abastecer o carro, li um cartaz contra o tabagismo e de exploração sexual. Ouvi um sussurro, bem atrás da orelha, arrpiei-me e virei de sobressalto! Irritado, confesso. Mas... Era Deus. DEUS ACORDOU, VOLTOU, NASCEU, SURGIU... Escolha. Mas era Ele, em sua forma mais frágil: um alta, magra e pálida mulher, quase sem cabelos, não deveria ter mais de 50 anos. Talvez.
Seu sussurro dizia: "Você não está só. Nunca mais estará. Há um talvez entre o elo de fé...". E desapareceu. Não, não foi embora, SUMIU.
Eu tinha certeza plena de que este mundo está prestes a ser salvo, da maneira mais certa, arrebatação ululante nos aguarda, creio! É uma simples e maavilhosa certeza... Ainda recebo mensagens no celular de números imensos, provavelmente infinitos, sei que é Ele, dando-me diretrizes da minha missão. Grato a todos que me acompanharam todos esses anos, muito obrigado. Lembrem-se:
Havia certo temor naquela investida silenciosa: dez irmãos, cinco servos em aprovação e um coordenador no esgoto. O ataque do ousado Brujah, que destruira o batedor enviado e o grupo de neófitos que foram depois, não poderia passar sem um recado de volta. Por isso a Mão estava lá: para lembrar à Camarilla, que o Sabá continua sendo o que é.
Encontrar a área de caça daquele "espertinho", foi difícil. Diferente do resto da estirpe dele, se metia em locais discretos e mais limpos: clubes de homossexuais. O que o desgraçado fazia a lá dentro, além de chupar o sangue de uns afeminados já idosos, pouco soubemos. Mas descobrimos que ele preparava um segundo ataque, desta vez ao ductus de um bando nômade. Alertamos ao ductus, e o usamos como isca: um briga de bar, drogas e ossos quebrados. O "agente" da toda-poderosa Camarilla se jogou! Como um tubarão faminto!
Já havíamos alimento alguns guardas e um chefe de polícia; não foi difícil. Quando o desgraçado chegou, esperava encontrar o ductus à beira do frenesi, mas se deu mal. Havia guardas com armas boas e preparados. Mas o filho da puta era bom: derrotou três guardas e ainda incapacitou o Sabá Verdadeiro líder de bando! Foi quando Lindsey apareceu atrás dele, vestindo aquela roupa de enfermeira. Ele era esperto, sabia que deveria fugir, mas ela acertou um dardo nas costas dele, foi o suficiente para ele sair cambaleando... e antes que tentasse entrar nos esgotos; eu cheguei.
A inadiável supresa, começou a derreter. Haveria alguns repentes de singelo agrado, poucas reflexões genuínas. A preocupação indiciava certo medo, aquele sentimento notório? De fato: não. Medo de decepcionar-se deveria ter um nome único, não é como a covardia de temer, ou a reação animalesca de perigo. Não. Um temor de ter certeza que as esperanças morreram, e já apodrecem.
Sabe? Máscaras vivas? Certezas, talvez dúvidas, a quem diga que são reflexões desnecessárias, invejosas, ou mesmo egoístas. Elas repensarão: ou não. Há fagulhas de dor, pitadas generosas de sadismo, todavia, a finalidade final de manter uma união e, a deveras, um amor entre os que se lançam. Nos desejaria sorte.
A primeira vez que ouvi os grãos de sal espremendo-se e se desfazendo, repetidas e repetidas vezes: eu sei - a maldita loucura. Já era hora. Meus pais eram primos, e minha avó era demente. Era questão de sorte.
Sorte. Muita sorte. De bilhões de crias do "Deus dos Tentáculos", ele escolhe só algumas... Os gomos mais doces e venenosos! Eu estava entre eles, eu! Yves Hamill de Lourdes. Eu.
E então ele veio a mim noite após noite. Eu ouvia tudo... E escrevia, com arranhões em meu cérebro...
AS LEMBRANÇAS ININTERRUPTAS SÃO TANTAS!
PERDER-SE, NO LABIRINTO DA DESORDEM...
PERDER-SE, ÍNFIMA MALDIÇÃO DE SER... DIVINO!
GRANDES INIMIGOS, IRMÃOS E IRMÃS!
MUITOS... JUNTOS... TODO.
QUANDO A VITÓRIA DAVA-ME AS MÃOS...
JUNTOS E LUTANDO... FORTE DA GUERRA!
EU - PRESSÁGIO E CERTEZA!
O OVO DA ANIQUILAÇÃO E DA CONSTRUÇÃO!
DEVERIA... DEVER... DEVIR...
DAR-ME!!!
MEU... DEVERIA SER!
FUI BUSCAR...
AFUNDADO, ARQUITETANDO...
PLANOS INFINDÁVEIS - A TORTURA!
DISTANTE... NECESSÁRIA!
PARA AMAR E ODIAR...
JUNTOS... MINUTOS INFINITOS... POUPADOS.
A última vez que ouvi os grãos de sal espremendo-se e se desfazendo, repetidas e repetidas vezes: eu sei - a maldita sanidade. Já era hora. Meus pais eram primos, e minha avó era demente. Era questão de azar.
Azar. Muito azar. De bilhões de crias do "Deus dos Tentáculos", ele escolhe só algumas... Os gomos mais ácidos e puros! Eu estava entre eles, eu! Eva Carmo de Fátima. Eu.
E então ele veio a mim dia após dia. Eu ouvia tudo... E escrevia, com arranhões em meus olhos...