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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Farsa das Matizes

1º ATO

Coleiras entre todos. Cansados de um dia inteiro andando. Param e adentram a casa de um egoísta.
Extraplanar: Possível dar-nos um pouco de pão e água? Somos exploradores-escravos das terras dos Hilotas & Inocentes! Podeis ter tal bondade?
Egoísta: É claro. Sempre desejei uma chance de trocar palavras com vós! Estou a elaborar um livro, que pretendo dar grande vastidão de opiniões! Livres ou não... Posso dar-lhes o que comer e o que beber! Podeis ajudar-me?
Anglicano: Estamos à vossa ordem! Não tereis servos para nos ajudarem? Cá não necessitamos de ajuda, e somos indignos de tal!

2º ATO

No emaranhado dos lençóis e plumas do Egoísta. Saciados de prazer e provisões, segue uma trôpega prosa de desconfortos! Agora sobre as Polis Íticas do horizonte traiçoeiro!
Egoísta: Não é católico e budista o legado traiçoeiro do povo que lá do canto direito vem? Almirantes daquelas águas sempre me advertiram! Há muitos credores naquelas regiões, todos crentes de algo! [acende um cigarro]
Extraplanar: Não somente. Protestantes de toda sorte! Hindus inclusive. Há todo tipo de pensamento livre! Graças ao Sábio Netiqueyte, sou um escravo do ceticismo, um cavaleiro do ateísmo! De bom grado, não de nascimento, mas de bom gosto...
Anglicano: Não tive escolha. Nasci escravo. Chamam-me pelo estigma de minha mãe. Não era de Polis Ítica, vinha do mar. Longe.
Extraplanar: Cansei de sôfregos desterros. Não somos livres! Orgulho servil! [levanta-se nu, na cama]
Egoísta: Deito com bons servos. Agora devem partir. O pão acabará na próxima semana e pouco me restou da água. Sedentos, vós estiveis.
Extraplanar: Dá-me um ósculo, portanto! [agarra o braço direito do Egoísta]
Anglicano: Quero mais que lábios! [agarra o pescoço do Egoísta]

3º ATO

Vestidos, agora, após a despedida. Vagam novamente rumo ao Mangue das Toscas Vindouras. Lá, há um bom rei, Telimbo rege feliz, e felizes são os que lhe servem - resmungam entre si [improvisar texto!]

Anglicano: Sirvo, mas não há tanto gosto como o teu. És um luminar! Há muito gosto em mim ver-te servir! Tens orgulho de ser um explorador-escravo! Meu orgulho é andar ao vosso lado!
Extraplanar: Além de bebidas e cigarros, Netiqueyte é o único que me conforta! E ele existe, com todos os seus átomos e elétrons! Todavia, conforta-me saber que o amigo é orgulhoso... Se somos!
Anglicano: Olhais! Um grande portão! As torres da polis! Chegamos! Um guarda... Um guarda se aproxima, tem um soberano atrás dele... Grande Netiqueyte, nos dar sabedoria agora!
Extraplanar: Bons dias e noites para vós, guardião da cidadela! Viemos de longe para provar nossa serventia ao teu mestre, e nosso futuro senhor... Não te preocupais, somos todos descrentes de divindades! Cuspimos em imagens e símbolos estranhos... Louvamos Netiqueyte! Temos marcas e diplomas! [põe-se de joelhos e sorrir empolgado]
Guardião da Polis: Então, até então. Por muitos, parecem certos. Mas lamento, terão que voltar. Há apenas algo que recentemente mudou, lamento por vós. Não havia como informar.
Extraplanar: O que poderia ter ocorrido? Somos irmãos em descrença! Temos diplomas! Marcas da servidão! Concursados, com toda certeza!
Anglicano: Nossos ancestrais, todos, renegamos. Idiotas animistas e cheios de fetiches. Dizeis, grande irmãos de espécie, o que de novo aconteceu, que não nos deixa adentrar tua polis?
Rei Telimbo: Agora tenho um deus. E todos que aqui vivem devem segui-lo. Arutaretil! Soberano dos livros de pele e das cavernas pintadas! Se não podeis servi-lo, daqui partam para todo o sempre! Há sempre um livro no fundo daquele poço sem lado, de almas e lodos.

 

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