Nascer, eis um ato indelével da natureza. Assim pensara, agora. Multiplicidade de mediocridades entre os que compartilham sangue, compartilham uma casa, compartilham uma mesa... Sorrisos.
A mãe, quase que completamente alheia ao que quer que pensassem, era singela e carinhosa com a criança. Crescera nos braços da mãe, que lhe banhava, que lhe vestia, até tentara ensinar-lhe palavras. A família não era pobre. A mãe rica de sentimentos. Nem sempre quis a maternidade, agora era contente com seu martírio.
Pai? Não desejou o filho. Tinha aquela criança em sua casa, apenas. Aberração doente. Somente dava trabalho. Dinheiro para gastar, mulher que não lhe dava mais atenção, tosses e gemidos à noite. Nada que vinha daquela coisa, lhe dava alento. Nada.
Um dia o pequeno, que carregava como filho, adoeceu, antes de completar dez, veio a deixar este mundo. Ele sentiu uma tristeza de protocolo, nenhuma faísca comparada à dor da mãe. As lágrimas foram secas e gélidas.
A noite, ao terminar de jantar, olhava o prato da esposa, ainda cheio, e sentia-se aliviado. Havia alguma culpa ali. Havia contas a pagar. O desgraçado deixou trabalho até depois de ter morrido.