Nada parecia idêntico. As formas postas diante do espelho. O tom cinza chamava a atenção entre todas as coisas... O vestido parecia desbotado, envelhecido, morto... Ela sabia que algo estava errado: os tons deveriam ser branco e preto! Sempre fora assim! Sempre! O médico disse isso a sua mãe quando ela ainda era bem novinha. Alertava sempre os novos amigos e namorados de sua condição para não haver problemas ou situações embaraçosas. Ao menos enxergava. Em preto e branco, mas podia enxergar.
Quando ficava cinza. Algo estava errado. Algo não estava na devida ordem. O que seria?
Uma vez sonhou que o sol tinha um forte tom, longe de ser preto, mas também não era branco... Os olhos se encantaram, gozaram de animação! Era tão forte! Não sabia nomear as cores... Mas não se sentia constrangida... Era um sonho ninguém poderia perceber... E acordou vendo o tom cinza.
As dores de cabeça começaram. Melhor não ligar para os pais. Poderiam se preocupar demais – já haviam se preocupado demais, por muito tempo. O preto era frio – era o tom da porta. O branco era quente; o tom das paredes. Levantou-se.
Olhou para o vestido. Não podia se atrasar. Estava cinza, isso poderia ser desagradável, mas não podia se atrasar. Desceu as escadas de sua casa, abriu aporta e tudo estava muito claro. Demais. Não parecia branco. Pedir socorro? Os olhos doíam! Segurou a grama branca ao cair. Ela deslizava! Apoiou-se na porta e parecia que afundaria nela! O vestido cinza mexia-se... Parecia que iria despi-la, mas voltava ao lugar... Em um esforço demasiado conseguiu se erguer.
Andou pelo caminho amarelado.
Chorou sobre as toalhas verdes.
Cuspiu desespero vermelho!
Deitou novamente na cama: com um lençol escuro e um travesseiro claro.