Gerald Castle
está afogando-se em entranhas, vermes circundam sua pele, forçam a entrada para
seus orifícios, ele se debate, reluta, insiste, mas não há luz para trazer
esperança, somente a desolação do vácuo, as sombras bruxuleantes vomitando
miasmas deixam apenas o frio, ele se vê só e frágil diante do Mal inominável que
nada em sangue num céu de pesadelos...
O refluxo
ácido e azedo do assado de carne que comera no jantar insiste em adentrar a sua
laringe, o despertar para a desolação de seu quarto, que é inundado pelo som
monótono dos insetos que passaram a infestar suas plantações. Assim como os
insetos que devoram suas plantações, o vigor de Gerald é devorado por um grande
verme que excreta letargia; ele cospe, mas o gosto terrível permanece no seu
paladar, a sensação é de que suas vísceras estivessem definhando e apodrecendo.
Erguer-se da
cama úmida com os suores noturnos, tornou-se um desconforto terrível diante das
dores no corpo, suas articulações parecem em chamas, tudo conspira para
permanecer no leito, mas o pavor de adormecer novamente o impede de se
entregar, ele precisa ficar acordado.
Noite após
noite os pesadelos se repetem cada vez mais vívidos e intensos, já não
distingue o que é sonho e o que é real, só o desejo crescente de que tudo isso
acabe. Não consegue mais ir à igreja, não consegue dirigir sua caminhonete até
a cidade, não consegue cuidar das suas plantações tão debilitadas quanto o seu
corpo.
As sombras se adensam diante do corpo
ressecado e quase desfalecido de Castle, não há força para se levantar,
tampouco arrostar o mal descomunal que o circunda, mas ele pressente, o terror
emanado pelo Leviatã de força incompreensível esfarela toda a sanidade do pobre
homem, ele entende que a dor só vai parar se ele oferecer mais dor em troca...
Os tabus de
sangue foram quebrados, os viajantes da rodovia 142 sumiam na escuridão, seus
carros repousavam no fundo do lago, enquanto seus corpos jaziam quase que
inertes, ora ou outra tomados por espasmos enquanto as larvas eclodiam de suas
carcaças violadas, murmúrios partem de lábios ressecados compondo uma sinfonia
desesperadora, enquanto os olhos de ejetam numa súplica para que isso acabe.
Longe do porão tomado por corpos, gerald vivencia o reconforto de não sonhar.
O sol se
esconde mais uma vez, talvez não queira ser cumplice das atrocidades que
acontecem naquele rancho, tudo em nome de um Mal ancestral, Gerald se põe de pé
preparando-se para pagar o tributo, mas os murmúrios do porão clamam por sua
presença, repetem o seu nome, ao descer as escadas encontra só o silêncio, nem
dor ou sentimento... Ele é tragado por um novo tempo, que o envolve e o
consome, uma força descomunal invade a sua alma.
Uma torrente
de insetos obscurece o céu e singra o ar em espiral consumindo plantas e
drenando o solo, que passa a ser negro e infértil, o último passo do ritual é o
sacrifício de um desperto.
Os vermes
escalam o corpo de Castle, a compreensão o inunda enquanto os vermes bloqueiam
suas vias respiratórias, ele se debate e emite sons gorgolejantes até repousar
inerte e encontrar o verdadeiro descanso no enorme vazio do nascimento e da
morte.
A realidade se
contorce em repulsa e expele um hálito fétido e cáustico, uma massa descomunal
de vermes brota do solo se contorcendo e agrupando para dar o contorno a uma
forma adiposa com pele acinzentada, coberta de artérias ingurgitadas que
carregam um sangue viscoso e pútrido da criatura bípede, cujo corpo é formado
por incontáveis dobras de pele e gordura, sobre este corpo repousa a cabeça com
cabelos ralos eengordurados, olhos negros como os pulmões de um fumante de três
maços de cigarro por dia, uma feição monótona, lábios finos que escondem os
dentes serrilhados. Deitado em posição fetal seu enorme ventre se contorce em
agonia, no centro do abdome abre-se um esfíncter e um grande verme de carapaça
negra guincha em loucura.
Aquele, cujo
nome se perdeu, ergue-se e passa a ser novamente “Nós”, um agente do caos, o
condutor dos caminhos da entropia. Seu papel é renovar o ciclo através da
destruição e servidão às forças serpenteantes da escuridão, que povoaram o
subconsciente humano. O Mestre dos Vermes ressurge com a agitação das marés de
sangue que movem o passado e o futuro.
Conduzido pelo
desejo de alimentar com o medo dos homens a personificação do desespero e
através das linhas de Ley conduzir essa força negativa, a qual fortalecerá o
Mal ancestral que o trouxe a vida novamente.
Átila
Hanemann (Fisioterapeuta, RPGista e colaborador d’A Mesa do Arcano)
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