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sábado, 12 de novembro de 2011

FIM OU RECOMEÇO?


Gerald Castle está afogando-se em entranhas, vermes circundam sua pele, forçam a entrada para seus orifícios, ele se debate, reluta, insiste, mas não há luz para trazer esperança, somente a desolação do vácuo, as sombras bruxuleantes vomitando miasmas deixam apenas o frio, ele se vê só e frágil diante do Mal inominável que nada em sangue num céu de pesadelos...
O refluxo ácido e azedo do assado de carne que comera no jantar insiste em adentrar a sua laringe, o despertar para a desolação de seu quarto, que é inundado pelo som monótono dos insetos que passaram a infestar suas plantações. Assim como os insetos que devoram suas plantações, o vigor de Gerald é devorado por um grande verme que excreta letargia; ele cospe, mas o gosto terrível permanece no seu paladar, a sensação é de que suas vísceras estivessem definhando e apodrecendo.
Erguer-se da cama úmida com os suores noturnos, tornou-se um desconforto terrível diante das dores no corpo, suas articulações parecem em chamas, tudo conspira para permanecer no leito, mas o pavor de adormecer novamente o impede de se entregar, ele precisa ficar acordado.
Noite após noite os pesadelos se repetem cada vez mais vívidos e intensos, já não distingue o que é sonho e o que é real, só o desejo crescente de que tudo isso acabe. Não consegue mais ir à igreja, não consegue dirigir sua caminhonete até a cidade, não consegue cuidar das suas plantações tão debilitadas quanto o seu corpo.
 As sombras se adensam diante do corpo ressecado e quase desfalecido de Castle, não há força para se levantar, tampouco arrostar o mal descomunal que o circunda, mas ele pressente, o terror emanado pelo Leviatã de força incompreensível esfarela toda a sanidade do pobre homem, ele entende que a dor só vai parar se ele oferecer mais dor em troca...
Os tabus de sangue foram quebrados, os viajantes da rodovia 142 sumiam na escuridão, seus carros repousavam no fundo do lago, enquanto seus corpos jaziam quase que inertes, ora ou outra tomados por espasmos enquanto as larvas eclodiam de suas carcaças violadas, murmúrios partem de lábios ressecados compondo uma sinfonia desesperadora, enquanto os olhos de ejetam numa súplica para que isso acabe. Longe do porão tomado por corpos, gerald vivencia o reconforto de não sonhar.
O sol se esconde mais uma vez, talvez não queira ser cumplice das atrocidades que acontecem naquele rancho, tudo em nome de um Mal ancestral, Gerald se põe de pé preparando-se para pagar o tributo, mas os murmúrios do porão clamam por sua presença, repetem o seu nome, ao descer as escadas encontra só o silêncio, nem dor ou sentimento... Ele é tragado por um novo tempo, que o envolve e o consome, uma força descomunal invade a sua alma.
Uma torrente de insetos obscurece o céu e singra o ar em espiral consumindo plantas e drenando o solo, que passa a ser negro e infértil, o último passo do ritual é o sacrifício de um desperto.
Os vermes escalam o corpo de Castle, a compreensão o inunda enquanto os vermes bloqueiam suas vias respiratórias, ele se debate e emite sons gorgolejantes até repousar inerte e encontrar o verdadeiro descanso no enorme vazio do nascimento e da morte.
A realidade se contorce em repulsa e expele um hálito fétido e cáustico, uma massa descomunal de vermes brota do solo se contorcendo e agrupando para dar o contorno a uma forma adiposa com pele acinzentada, coberta de artérias ingurgitadas que carregam um sangue viscoso e pútrido da criatura bípede, cujo corpo é formado por incontáveis dobras de pele e gordura, sobre este corpo repousa a cabeça com cabelos ralos eengordurados, olhos negros como os pulmões de um fumante de três maços de cigarro por dia, uma feição monótona, lábios finos que escondem os dentes serrilhados. Deitado em posição fetal seu enorme ventre se contorce em agonia, no centro do abdome abre-se um esfíncter e um grande verme de carapaça negra guincha em loucura.
Aquele, cujo nome se perdeu, ergue-se e passa a ser novamente “Nós”, um agente do caos, o condutor dos caminhos da entropia. Seu papel é renovar o ciclo através da destruição e servidão às forças serpenteantes da escuridão, que povoaram o subconsciente humano. O Mestre dos Vermes ressurge com a agitação das marés de sangue que movem o passado e o futuro.
Conduzido pelo desejo de alimentar com o medo dos homens a personificação do desespero e através das linhas de Ley conduzir essa força negativa, a qual fortalecerá o Mal ancestral que o trouxe a vida novamente.

Átila Hanemann (Fisioterapeuta, RPGista e colaborador d’A Mesa do Arcano)

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