Seu pretendente, entre os sempiternos, era um dos mais desejados. Um jovem deus elfo, com muitos seguidores e planos exuberantes, daqueles que enchiam a imaginação dos eternos mais antigos e chegavam inclusive a chamar a atenção dos "infinitos", os imensuráveis. Alea não era uma deusa com muitas pretensões, aguardava sua vez na linha hereditária de sua família, estava fadada a se manifestar numa jovem rainha de uma terra distante. Nas brevidades, quase inocentes, aqueles casos incomuns, com floreios que não necessariamente se configuram como exageros, os olhos dos dois jovens sempiternos se encontraram... E em um salão, onde mais de uma centena de sempiternos, e menos de uma dezena de infinitos, compartilhavam suas ponderações, a brevidade mais ínfima do tempo se desfez soprada pela surpresa dos primeiros olhares - aqueles que são preenchidos pelo absorto e pela dúvida - que não vacilavam. Os olhos dele são cheios de ganas, pensava Alea; os olhos dela rivalizam com sua tez e lábios, deduzia An'Nag.
A lentidão do tempo, que freava constantemente nas notas doces e lentas das cítaras, não incomodavam aqueles que não viam mais ninguém; nem a bela e doce Solyphynnaya, uma deusa da beleza e da paixão, ou o deformado Mehrgwry, deus da aflição, nem o inconstante infinito, Glazymasthur, guardião das eras escritas dos sempiternos... Nada era capaz de ser tão importante na brevidade daqueles segundos que não chegariam a se tornar um minuto. Nada.
An'Nag se aproximou:
- Em um vastidão infinita de vácuo...
- Se estende a dúvida: seus filhos são o desespero e a esperança?
- O óbvio...
- A certeza da angústia: dor ou amor!
- É. Um dragão azul de duas cabeças.
- Metáfora singela. Bonita.
- Nem nossa língua alcança. Não creio que haja fonemas.
- Por que seriam necessários?
- Não os são. Para descrever este momento lapidado nas paredes de minha memória.
Tanto tempo se passou. Tanto amor e tanta paixão vieram por eras. Tanto desespero, rios de saudade, turbilhões de mágoas. O impossível, durante as Guerras Eternas, aconteceu... An'Nag foi destruído. E antes que pudesse chorar em seu luto, Alea descobriu sua traição; ele cobiçava uma deusa do acaso em Nova Atlântida: Opala... A jovem deusa elfa juntou todas as informações que poderia conseguir com sua mágica - é deusa do poder e dos nobres - e ordenou que dois campeões planares lhe obedecessem: Axelphy, o arqueiro, e Sellyne, a feiticeira... Eles foram mandados para Nova Atlântida para conseguir informações sobre Opala e lhe trouxessem uma parte de sua essência. Levou séculos, quase um milênio - uma piscar de olhos para um sempiterno -, mas conseguiram. Alea Yardan forjou seu cordão, que lhe permitia atravessar os planos em segurança, sem o risco do "mal-planar", e partiu para os planos, ou versos, mais próximos disposta a unificar forças o suficiente para submeter - ou destruir - todos os deuses humanos. Em Arkya, ela descobriu como matar deuses-dragões, em Nova Atlântida, ela descobriu a fraqueza dos pilares da realidade, e em Caen, está prestes a chamar a atenção de um dos deuses que entende dos fios mekânicos do universo... Nem que para isso ela tenha que destruir parte desse mundo.
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