O menino Tzunakk era muito diferente de todos os outros, calado, não gostava de interagir, era desengonçado com as habilidades físicas, mas obediente; era extremamente apto para testes de cognição e raciocínio. Tão pequeno o meio-orc, mas já tinha seus segredos. Sua irmã, uma orc pura, não fora resultado de uma violação sobre uma escrava élfica, contudo, ela era fruto de um amor por parte de seu pai por uma jovem nobre guerreira que tinha sido enviada pelos pais para se juntar as tropas de Coshnar, pai de Tzunakk. O pequeno meio-orc sufocou a irmãzinha numa noite em que seu pai e madrasta dormiam profundamente depois de muita bebida, fumo de dragão e orgia com escravas. Ele usou um travesseiro, não fez muito esforço, apesar das pequenas garras da irmã terem ferido um dos dedos do fratricida.
Na adolescência, ele não pensava em abusos e trunfos com seu órgão genital, tal qual alguns de seus colegas de academia militar, ou em conseguir mais músculos e armas. Ele já tinha um segundo segredo para guardar: havia torturado um pequeno orc doente que mendigava nas ruas. O atraiu com promessa de uma refeição, e o envenenou de maneira que não pudesse gritar. Levou para uma área onde haviam sedimentado as bases para a construção de uma torre de vigia, os soldados estavam empenhados em algum conflito fora dos muros da cidade; não havia ninguém nos alojamentos dos construtores. Lá, ele usou pequenas facas e muitos pregos, de variados tamanhos, para acumular muita dor no corpo do mendigo, até que parasse de respirar.
Então, cresceu. Não havia feito sexo ainda, ou consumido álcool. Já morava longe de seu pai, mesmo que na mesma cidade. Azy-Ghurk é dividida em alguns distritos, ele escolhera um que permitisse estar mais perto da saída da cidade. Criava duas lobas, Zatir e Nanir, as alimentava com escravos doentes e crianças indesejadas de escravos e mendigos. Lia bastante, textos e livros de várias partes do Império Dragão, das ilhas élficas, da sábia ilha de Growtya e sua universidade, das profetisas de Jhaavee. Realmente, gastava muitas arkhehamas com aqueles tomos, todavia, para ele valiam cada dispêndio. Foi então, que ele ouvira uma das lobas se engasgar, enquanto lia sobre as Ilhas Doshermanas e suas divindades incompreensíveis. As lobas comeram com muita velocidade uma menina humana que perdera a consciência ao bater a cabeça, o pai vendia seu corpo para prazeres de orcs, meio-orcs e humanos que queriam sentir o prazer de penetrar uma mulher que parecia estar morta. Tzunakk a comprou, na tentativa de acordá-la com tortura; não surtiu efeito, e ele a deu para suas lobas. Então, ele correu para salvar uma das coisas vivas que lhe valiam a pena o custo. Tropeçou na pequena escadaria que dava para sua biblioteca particular, com certeza a maior da cidade orc.
As luzes do dia se apagaram.
O chão era pegajoso, tinha cheiro de sangue, e parecia pulsar. O chão parecia pulsar? Ele não via nada, a mais pura escuridão. Por mais que conhecesse a fé no Vingador, Numai, o mestiço não rezava para nenhuma divindade, nem sequer lhes dava algum crédito. Entretanto, lembrando da breve dor da queda, e das sensações que o cercavam agora, ele cogitou estar na Prisão dos Desesperados, para onde vão aqueles que foram mortos por devotos de Numai, ou morreram por acidentes. Seu coração acelerou, o suor tomou-lhe a testa, a boca escancarou-se. Ele começou a ouvir vozes que eram gemidos lamurientos e gritos abafados, pediam perdão, imploravam por misericórdia, era como se pudesse ver uma infinidade de jaulas, nelas diversos desafortunados se acotovelavam e estendiam os braços entre barras, fezes e urina não eram odores páreos para o cheiro forte de sangue, era como se cada cela estivesse sobre um campo vermelho róseo gigantesco que pulsava. Como se fossem espinhos, ou pregos fincados sobre um cérebro exposto. Era aterrador. Mas era fascinante.
Estava feliz.
Uma figura surgiu na sua frente. Era bem alta, lâminas finas e afiadas saíam de seus longos brincos e apertavam-lhe o pescoço, se ela mexesse de maneira errada com certeza se mataria, a pele era amarelada, num tom mais intenso que os dos humanos shen, a cabeça estava raspada, os traços eram como de uma shen, um manto negro envolvia-lhe o busto e o quadril, as partes expostas - pernas, parte do tórax, pescoço e ombros - estavam cobertas de pequenos nódulos avermelhados, certamente deixados por lâminas pontiagudas como as dos brincos que flagelavam-lhe o pescoço. O resto do manto se estendia pelo chão.
Apesar de seus pequenos olhos, o olhar era profundo. Tzunakk olhou de volta, quase que apaixonado. Mas não. Era fascínio legítimo.
O pacto foi selado.