Chove quase todos os dias em Belém. Chove muito à noite. Quase todo dia um ritual é realizado, para um deus ou para vários. As praças são palcos de liturgias e sodomias a maior parte da noite, nas manha de finais de semana respiram simplicidade e consumismo; o que chamam de felicidade. Há muita sujeira, e poucos resistentes, porém existentes que tentam manter civilidade, por vaidade própria ou alheia. Nem todo dia morre alguém, mas há uma taxa de mortalidade alta, nos padrões latino-americanos; mas some muita gente - de repente. Muitos barcos ainda param por lá, alguns vão para outras cidades, outros vão para as ruas de rio onde o homem e a natureza fizeram um pacto, quase sempre quebrado, contudo contínuo. A beleza da cidade transborda com o sol, suspira com a chuva, até na noite clara há uma sedução ambiente... Mas há cantos escuros, nuvens densas, becos sem fim - muita gente some.
As lendas já estão de cabeça baixa, mas aqui e ali elas abrem os olhos e revivem na boca dos sábios, ou medrosos em demasia. Os mitos foram vendidos aos turistas, a história resiste - por quanto tempo? - há muito suor. Some gente por aqui.
Há restos de bosques por toda cidade, existem vultos nas esquinas de muitos olhos e a impureza de muitas almas. Uma glória sepulcral luta todos os dias em vários cemitérios; reza-se e ora-se... Desaparecem nas esquinas, assobios e desejos, ânsias e angústias - todas as dores correm e deixam outras - filhas das filhas, das filhas, das filhas...
Sons de tambores, de tolos e felizes nas praças, de fé nos subúrbios - sons mecânicos, vozes geladas, gemidos quentes... Escorrendo pelo rio de asfalto, pelas folhas dos terrenos baldios - some muita gente.
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