Sentados e indispostos aguardavam suas cônjuges. Um à direita, outro ao centro. Sapatos inquietos e uma sinfonia sem maestro; seria o impasse? Uma pequena proposição: preços de peças de roupa, uma loja feminina - o palco das encenações. Longe, de toda forma, a singular senhorita em uma interminável escolha, decisão única, difícil: muito pequena? grande demais? quem verá?
- Exorbitantes, houve tempos melhores!
- Nem tanto. Mas nem tão caóticos...
- Ora, pode-se protelar algo inferior?
- Nego a saudação atroz dos verdugos que aqui estão, mas os do passado... Nunca mais, por Deus...
Nem tão longe, um solitário em seu compromisso, a escolher um regalo fino e convidativo, observa a senhorita... Quadris largos, seios avantajados, óculos redondos, bochechas fartas, as nádegas imensas... Ele saboreava a desatenção dela, e se incomodava com o colóquio que persistia...
- Deus me defenda de ver uma mulher naquela posição! Que perigo...
- Ora, não é de todo ruim, pior seria se fosse um estrangeiro, ou um pagão, mas desde que continuasse a apertar as mãos certas e massagear as costas de sustentação...
- Que radicalismo. És comunista? Não posso crer...
- De forma alguma, sou cristão. Não praticante.
Ela não notara os gordos senhores, de barba bem feita e de cortes parnasianos. Nem mesmo o observador descuidado em sua hipnose. Ele se escondia atrás de uma coluna, e de um par de óculos remendados... Esquecera o que estava fazendo ali, ou melhor, seguia sua marcha, uma súplica inconsciente, a imaginar e cogitar, e refazer traços poéticos em cada detalhe... Ela enfim escolheu, amarela, nem pequena nem grande. Ele tinha certeza, seria diminuta. Passaram, um pelo outro. Ele procurou os olhos dela, ela tinha pressa, seguiu ao caixa. Apenas.
- Foi um prazer conhecê-lo, o senhor parece muito jovem, pra idade que tem!
- Nem tanto. Se fosse o senhor, pararia de fumar e melhoraria o cardápio.
- Até mais!
- Que Deus lhe guarde.
Enfim.