As coisas demoraram para fazer sentido. Meu cachorro morreu, dois do vizinho já haviam morrido. Mas como fora dito: depois tudo fez sentido.
Eles vieram dos céus. De início, eram poucos, acredito que um casal e um que tinha apenas um pé. Todos eram belos e singelos. Calmos e silenciosos. Acredito que vieram depois de verem as doações diárias que fazíamos aos passarinhos. E então, sem demora, começamos a ajudá-los.
Toda manhã distribuíamos um pouco de comida. A tardinha mais um pouquinho. Mas sem percebermos essa doação tornava-se obrigatória.
Um dia as fezes começaram a surgir. Não traziam tanto incômodo, de início tudo parecia cômico. Até que uma amiga médica sentenciou: "Isso faz mal. Tomem cuidado. Animais morrem."
Então paramos de alimentar nossos hóspedes, que agora eram muitos, não mais tão gentis e não raro agiam de forma agressiva. Por vezes de maneira sorrateira distribuía algo aos passarinhos, mas eles sempre estavam pro perto para roubar algo! Comecei a ser mal-educado e xotá-los de várias formas! Ameaçava com a vassoura ou com o cinto... Além de pronunciar muitos palavrões!
A reação foi pior que o esperado. Os hóspedes começaram a invadir a cozinha! Pães e até carne eram roubadas! Estavam tentando nos envenenar!
Várias propostas foram feitas em uma assembléia noturna entre os residentes da casa. Nenhuma foi consensual: tela, cortinas, gaiola, pedrada... E, talvez, veneno. Muitos reagiram contra o veneno! Não! Seria um crime! Eram invasores, sim, mas não mereciam a morte.
Alguns se passaram e os saques continuaram, cada vez mais bárbaros e grotescos!
O ancião da casa não pode aguentar ao perder seu café e almoço no mesmo dia! Furtados por meio de bicadas! Então ele confidenciou à filha mais nova, só ouvi porque estava silencioso no sanitário, iria envenenar pão para dar fim aos pombos. E sentença já estava dada.
O primeiro a aparecer estirado no quintal era o que não tinha um pé.