Receoso de mover uma mínima fibra muscular, Kametsuramy-Kame, “Asas-Amarelas”, permanecia imóvel – mesmo ouvindo os repetidos estrondos que vinham de alguns quilômetros ao norte. A água poderia sentir o calor e a corrupção nuclear que se espalhava; o dragão também. As montanhas eram bombardeadas repetidas vezes. Montes colossais talhados pelos caprichos do vento e do mar – obras de artes esculpidas pela natureza, ou pela vontade dos “senhores da criação” – eram destruídos pelas pequenas bombas que eram arremessadas contra tais resistentes rochedos ilhados.
Quando uma bomba caiu perto, perto demais, Kametsuramy-Kame fez seu primeiro movimento: abriu os olhos.
Abubo, um xamã que vivera toda sua vida em um das diversas ilhotas que existem na imensidão do Pacífico sentiu que “algo” estava despertando – que a realidade encontrara algo para subjugá-la! Ele se assustou! Levantou-se da areia da praia onde contemplava o pôr-do-sol já há alguns minutos! Correu em direção a sua cabana, pegou suas melhores reservas alimentares e atirou ao mar! Recitou cânticos que mal conseguia lembrar! Cânticos ensinados pela sua avó, e à sua avó pelo avô dela! Os cânticos serviam para acalmar os deuses do mar e dos ventos – deveria servir para o quê quer que tenha acordado! Ele temia pelo pior. Seus netos o cercavam com curiosidade e discreto medo em seus olhos infantis...
O coronel Marcus Ladesvinsky sabia que faltavam pouco mais de cinco bombas a serem lançadas. A cada bomba lançada mais uma chuva de dados nos computadores da aeronave, mais uma corrente de informações circulando de um canto a outro do veículo, mais um turbilhão de inércia em sua mente e ações – só dava ordens! Os dados saiam da aeronave e atingiam uma antena no Havaí, se seguia para o Alaska e depois chegava a Washington. Ele já não via o momento de acabar e poder voltar para Honolulu para tomar algumas cervejas em qualquer um dos bares para veteranos. Somente para relaxar, e depois voltaria a Houston. Que problema haveria nisso?
Kametsuramy-Kame, Asas-Amarelas, se levantou de seu sono milenar!
Todos os iguais a ele sentiram em toda parte da Ásia... Ele bradou com fúria! Abubo sabia que a criatura era mais antiga que sua linhagem e mais poderosas que todos místicos de sua ilha juntos! Ele apenas pediu proteção para sua ilha. Ladesvinsky e toda sua equipe na aeronave puderam ver a criatura que se aproximava pelos ares! Era enorme e magnífica! Tinha asas douradas e um olhar de cólera sem igual! Ele pediu para parassem o processo! E a criatura, que carregava um ódio em seu interior maior que qualquer anseio dentro daquela aeronave, não poupou forças para destruir o veículo de metal com uma baforada flamejante! Enormes estrondos, da explosão da nave e das bombas interiores, lançarem-se sobre todos próximos... Abubo rezou por todos...
O grande dragão aéreo rugiu contra os céus! Ele estava de volta! E queria saber que novo mundo era este! Que precisava ser conquistado!
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